21/07/2011 11:09
Arte paleocristã
Antes do início do
século II os cristãos, sendo um grupo minoritário perseguido, pode ter sido coagido por sua posição há não produzir obras de arte duradouras. Uma vez que nesse período o cristianismo era uma religião exclusiva das classes mais baixas, a falta de arte sobrevivente pode refletir uma falta de recursos para patrociná-la. Os primeiros indícios claros na afirmação de um estilo próprio cristão surgem em inícios do
século II, sendo seu expoente as
pinturas murais nas
catacumbas romanas, lugar de culto e refúgio cristãos. Normalmente os primeiros cristãos representavam o corpo humano de maneira proporcional e
bidimensional, por vezes adaptando elementos da arte pagã, e obviamente harmonizando-os com os ensinamentos cristãos, bem como também desenvolveram sua própria
iconografia, por exemplo, símbolos como o peixe (
Ictus).
Três primeiros séculos
Durante a
perseguição aos cristãos sob o
Império Romano, a arte cristã era deliberadamente furtiva e ambígua e, por vezes, era colocado em locais junto com a com a arte pagã comum, mas possuía um significado especial para os cristãos. É provável que tenham existido vários centros artísticos com estilos artísticos próprios, como
Alexandria e
Antióquia, mas é em
Roma que se revelam as primeiras pinturas murais em
catacumbas, locais que serviam de
cemitério subterrâneo aos aderentes do cristianismo, de fato, a arte cristã sobrevivente mais antiga provém do início do
século II nas paredes dos túmulos nas
catacumbas de Roma. Inicialmente, Jesus foi representado indiretamente pelo
pictograma simbólico do
Ictus (peixe), pavão , Cordeiro de Deus, ou uma
âncora.
Arquitectura
Até à declaração de liberdade de culto, a arte cristã não tinha uma tipologia arquitetónica própria, optando por celebrar o seu culto em lugares pouco relevantes. Com o Édito de Milão, Constantino apoia a construção de
templos próprios, em
Roma,
Milão,
Ravena, de modo a divulgar a nova religião e acolher o crescente número de convertidos.
A basílica
As novas
igrejas, desenvolvidas a partir da
basílica romana, vão revelar a base do que será a arquitectura religiosa da
Europa ocidental ao longo dos séculos. A basílica clássica, um espaço amplo onde se possibilita o agrupamento de um avultado número de pessoas, pode satisfazer várias necessidades (tribunal, mercado, audiências etc), mas nunca serve o propósito de local de culto.
Basílica de S. Paulo extra-muros, já bastante alterada.
Mas embora se tenham levado a cabo várias edificações, estas foram sendo alteradas ao longo dos tempos e nenhuma se apresenta hoje com o seu traçado original.
A basílica paleocristã compõe-se, então, por uma
nave central com
clerestório de
janelas altas, abertas em paredes assentes em
arquivoltas ou em
arquitraves, cujas colunas fazem a ligação a outras duas naves laterais (colaterais) de menor altura. Todo o espaço segue um eixo longitudinal e converge a
oriente na
ábside, onde se situa o
altar, e que é emoldurada por um
arco triunfal. Este
arco pode estar assente numa área elevada denominada
bema. Em algumas basílicas, entre as naves e a
ábside, situa-se uma nave transversal, o
transepto, que forma um T com a nave central. Os tectos eram de travejamento à vista, de
madeira.
Mosaico
O desenvolvimento da arquitectura e a emergente necessidade de decorar vastas superfícies vão impulsionar a produção artística do
mosaico, uma técnica com origens na
arte antiga, difundida na
Mesopotâmia e com profundas tradições no período greco-romano. O mosaico romano, geralmente utilizado para o revestimento de pavimentos, é feito à base de pequenos cubos de
mármore (
tesserae) que se adaptam bem à reprodução cuidada de pinturas, mas de pouca intensidade cromática.
A arte paleocristã, podendo agora usufruir de maiores bases financeiras e relegando para segundo plano a pintura mural a
fresco, vai procurar aperfeiçoar a técnica e vai brindar o interior da igreja com intensas e vibrantes imagens policromáticas, possíveis pela substituição do mármore por pedaços de
vidro colorido. Este novo material não permite, no entanto, uma paleta complexa de matizes e a modelação das figuras perde o seu contacto com o mundo real, as personagens apresentam-se como seres transcendentais, imateriais, habitantes de um reino de
luz e
ouro.
Pouco sobreviveu destes primeiros mosaicos do paleocristianismo, mas supõe-se que cobririam as grandes superfícies da ábside, do arco triunfal e da nave, representando cenas bíblicas. Crê-se que a sua variedade formal tenha ainda herdado muito da arte romana adaptando-a aos novos conteúdos religiosos e isso pode-se ainda observar-se na
Basílica de Santa Maria Maggiore pela forte
geometrização e pelo ilusionismo espacial.
Iluminura
Génesis de Viena
São Paulo
Em oposição à arte romana pagã, o cristianismo baseia o seu conteúdo nos textos sagrados da bíblia, cunhando os manuscritos com ilustrações, as
iluminuras, de elevada importância no processo de manutenção e propagação das escrituras. Acompanhando este aumento produtivo está também o desenvolvimento da técnica da produção dos suportes para manuscritos. Até então eram usados rolos de
papiro que não permitiam grande liberdade artística no que diz respeito à ilustração. O permanente enrolar e desenrolar do papiro causava a deteriorização da tinta criando–se apenas cabeçalhos com formas simples e lineares. Com a introdução do
pergaminho, na
século II a.C., que se pode dobrar sem partir, surgem os primeiros
livros com encadernações ricas em
madeira e decoração em
metal e pedras preciosas, os
códices (
vellum codex), onde a liberdade formal e cromática não encontra os limites anteriormente estabelecidos pelo suporte.
Poucas são as iluminuras do paleocristianismo que sobreviveram até aos nossos dias, mas o pouco que se conhece a partir do
século V, apresenta uma rica variedade cromática que recebe inicialmente muita da influência da estrutura espacial e geometrização da pintura greco–romana.
Escultura
Nos dois primeiros séculos há poucas
esculturas e
estátuas, uma vez que elas eram mais difíceis de confeccionar, e custavam mais caro, no entanto, a partir do século III surgem diversos exemplos de seu uso pelos fiéis.
Dípticos de marfim
De herança clássica, os dípticos de
marfim (duas abas com relevos no exterior em marfim e superfície de
cera no interior) eram peças pessoais de trabalho decorativo requintado, que serviam de invólucro para guardar documentos ou manuscritos. Reflectindo gostos pessoais estas peças possuiam, muitas vezes, a conjugação de elementos clássicos e simbologia cristã, consoante a fé do autor da encomenda.
Dípticos de marfim
Bustos
Embora se tenha renunciado à escultura de escala monumental, o busto de forte tradição clássica mantém-se por um longo período, efectuando-se retratos de carácter formal abstracto e transcendental, de
imperadores e altos funcionários do estado.
Bustos do Imperador constatino